(*) Enresto Puglia Neto
Como especialista em Liderança, tenho um olhar crítico sobre a postura de nossos governantes, afinal, eles são nossos líderes políticos que influenciam a todos com seus exemplos.
Há questão de um mês, me chamou a atenção a postura do governador João Doria, numa reunião com deputados estaduais, na Assembleia. Nessa reunião, onde só o governador teve a oportunidade de fazer gravações de áudio e vídeo, o deputado estadual Major Mecca foi admoestado em público (na presença dos demais deputados e depois na frente de toda a população, quando da divulgação do vídeo) pelo governador. Após a divulgação do vídeo, o deputado veio a público dar a sua versão dos fatos, mas aí a exposição já havia ocorrido.
Hoje, me deparei com situação semelhante. Durante uma reunião no Quartel General da Polícia Militar, o governador João Doria admoestou um coronel da PM, que estava fazendo uso do celular (duvido que estivesse falando nele, mais provável que estivesse anotando as próprias palavras do mandatário máximo do estado). O pior é que tudo estava sendo transmitido ao vivo, transformando-se numa cena que viralizou nas redes sociais, principalmente nas que têm membros da segurança pública como membros.
Sob o ponto de vista da liderança, onde está o problema? Qualquer pessoa que tenha lido algum livro, realizado algum curso ou mesmo assistido a uma palestra sobre o tema, sabe que uma das regras de ouro da liderança é “elogie em público, corrija em particular”.
Mais ainda, num discurso feito durante a Primeira Guerra Mundial – que depois foi incorporado por Napoleon Hill em seu livro a Lei do Triunfo – o major C. A. Bach, então comandante de uma escola de formação de oficiais dos Estados Unidos da América disse que “um oficial que se mostra insolente e insulta os seus soldados comporta-se como um covarde. Amarra um homem a uma árvore com as cordas da disciplina e bate-lhe no rosto, pois sabe que ele não pode reagir.” Foi mais ou menos isso que o governador João Doria fez com o deputado e, principalmente, com o coronel. Ou será que alguém esperava que o coronel respondesse alguma coisa ao governador?
Atitudes como essa só prejudicam seus autores, pois soam como arrogantes e, mais ainda, como uma tentativa de assumir um comando que notadamente não há. Um líder, numa situação como essas, não “esbofetearia” seu ouvinte, pelo menos não em público, e muito menos o exporia nas redes sociais. Um verdadeiro líder usaria de seu poder de comunicação para mandar seu recado, sem atacar, menosprezar, constranger e, menos ainda, expor! A não ser que a única mensagem que ele queira enviar é: “posso ser menos inteligente e capaz que você, mas tenho o poder e vou utilizá-lo!” Se for essa a mensagem desejada, então perdemos um líder e ganhamos um mandão, que será obedecido enquanto tiver capacidade de fiscalizar. Assim são os tiranos, os ditadores etc, que vigiam e fazem o medo vicejar, para que possam exercer seu p oder.
Mesmo sendo um dos empresários responsáveis pelo LIDE – Grupo de Líderes Empresariais -, as atitudes do governador João Doria aqui comentadas não foram exemplos da melhor liderança!
(*) É Coronel da reserva da PMESP, especialista em liderança e Secretário Executivo da DEFENDA PM