Na manhã do domingo dos Pais, nem os familiares do Sargento Oliveira Júnior, nem os do Soldado Menezes nem os do Soldado Victor esperavam o comparecimento do governador João Doria ao enterro de seus entes queridos, assassinados de forma covarde enquanto trabalhavam em defesa da sociedade paulista. A bem da verdade, nenhum policial militar esperava tal gesto de humanidade do governador que, ao fim e ao cabo, poderia mudar sua imagem de menosprezo à vida humana e, em especial, à vida dos seus comandados, uma vez que é o chefe supremo da polícia paulista.
E o governador, mais uma vez, e para confirmar o que ninguém esperava, não foi ao enterro de nenhum deles. Limitou-se a uma nota protocolar no Twitter.
Não é a primeira vez que policiais militares morrem em serviço. E não é a primeira vez que o governador João Doria faz questão de demonstrar o seu desprezo por aqueles que lhe garantem a governabilidade e a sua cadeira no Palácio dos Bandeirantes. Em outra oportunidade, o governador preferiu promover uma “pelada” futebolística em sua mansão nos Jardins, acompanhado de deputados amigos, no momento em que o caixão baixava à sepultura. O governador tem obrigação de ir a enterro, salvo se tiver um impedimento maior. O mínimo que se espera de um governo civilizado e democrático é um gesto de carinho e uma palavra de consolo num momento em que uma vida se perdeu, em especial a vida de um guardião do povo e da Sociedade.
Ontem, um dia depois do corpo do pai herói baixar à sepultura, veio ao mundo Samuel (que em sua origem hebraica significa “Seu nome é Deus”), filho do soldado Victor. Hoje, mãe (Ana Carolina) e filho receberam a visita do Presidente da República, que cancelou compromissos políticos em São Paulo para estender a mão a essas duas pessoas às quais as circunstâncias ainda não deram tempo para suportar a dor da falta do esposo e do pai. O presidente foi convidado pelo deputado federal Cap Derrite (PP/SP), que também veio de Brasília para acompanhar a visita. É possível que os adversários políticos digam que o gesto do Presidente foi um teatro político; é possível que o chamem mais uma vez de demagogo. Mas que fique registrado na história de São Paulo e do Brasil que, pela primeira vez neste país, um Presidente da República foi visitar a viúva e o filho de um policial militar morto em combate.
Que a presença do Presidente da República seja um sinal de respeito pela vida de todos os policiais militares do Brasil e um ato de reprovação à péssima e desonrosa postura do Governador do Estado – e não venha com a justificativa de que se não estivesse com Covid teria ido, pois das vezes anteriores também não foi, e no domingo não estava com diagnóstico positivo.
Esta nota é para registro ao povo paulista, ao povo brasileiro, em especial a toda família militar e dos profissionais de segurança pública do Brasil. Saiba, governador, que se no mandato o senhor vier a falecer, lá estaremos para prestar as honras devidas ao chefe de Estado e à pessoa humana. Nós honramos a vida, inclusive morrendo para salvá-la.
Em memória de todos os heróis tombados no cumprimento do dever.