Opinião Defenda

O SACRIFÍCIO DA VERDADE NO ALTAR DA CIÊNCIA

Com o passar dos dias, a pandemia provocada pelo Coronavírus nos apresenta outros problemas que vão além das questões de saúde. Aquilo que é apresentado na mídia como Ciência vem servindo para balizar decisões adotadas para as questões públicas e particulares como derradeira e suprema instância, contrariando às vezes até mesmo a Constituição Federal.

Esta “Ciência” não pode ser tratada como entidade univocamente reconhecível, como veremos adiante, porque nada mais é que ostentação indevida de autoridade.

Usada como autoridade última, esta “ciência” deixa de propor a livre investigação racional e o debate público. Nenhuma deliberação que ela ofereça, sobre o que quer que seja, pode estar isenta de críticas. Assim, ela só deve existir como ideal orientador.

Aceitá-la como “autoridade social” é correr sério risco de desviá-la, e, em qualquer grau que isso ocorra, esta “morte” patrocina o advento de uma “ditadura científica”.

O comentarista político americano Dennis Prager fez, recentemente, a observação de que o lockdown mundial “é não apenas um erro, mas também, possivelmente, o pior erro que o mundo já tenha cometido”. O jornalista J.R. Guzzo, comentando o artigo de Prager, afirmou que “na decisão de parar as sociedades para combater a covid-19, a origem do desastre está no erro em escala monumental — e erros desse tamanho não são cometidos necessariamente por gente má, mas por tolos, arrogantes e ineptos. Estes, infelizmente, vivem em grande número entre nós, e ocupam posições de autoridade em toda parte”.

Em entrevista sobre o tema, o cientista político português João Pereira Coutinho, explicou ao filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé que “nem tudo tem que ser sacrificado no altar da ciência e da técnica”, comentando sobre o erro que existe quando validamos apenas o conhecimento técnico, descartando as outras formas de conhecimento. Ele também afirmou que “ouvir a Ciência não significa se submeter a uma ditadura da técnica”, pautando sua explicação nos ensaios de Oakeshott, sobre a política racionalista. Bruno Garschagen resumiu que “a ação política racionalista é, segundo Oakeshott, uma expressão da política de fé – esta que considera que para todo e qualquer problema haverá uma única solução racional e esta será a melhor de todas”.

O que era para ser um problema sanitário escancarou um gravíssimo equívoco da nossa sociedade moderna, ou seja, o uso de declarações da “comunidade científica”, de “especialistas” ou qualquer uma de suas variações como argumento final para impor uma ideia e fugir de questionamentos.

Na Segurança Pública já estamos, infelizmente, acostumados aos ditames apresentados pelos “policiólogos” de plantão, sempre com suas “soluções inquestionáveis” sem a devida valoração dos estudos feitos pelos cientistas policiais (sim, existe a Ciência Policial, mas que hoje é deixada de lado pela “academia” formada por sociólogos, antropólogos, juristas, os tais “especialistas”, que tentam impor teses sem levar em conta a experiência policial). Os exemplos são múltiplos de erros que possuem o carimbo da “ciência”, desde “estudos” sobre o desencarceramento em massa, liberação das drogas, desarmamento civil até formatos de policiamento mirabolantes, que trouxeram ou podem trazer danos nefastos para toda população.

Com a pandemia, este mesmo subterfúgio de que a “ciência” é capaz de conduzir a situação sem ser questionada está sendo utilizado para ditar regras de condutas. O professor Fabio Blanco exemplificou muito bem o assunto:

“Dizem que tudo é pela Ciência; que devemos ouvi-la e atentar para suas orientações. No entanto, observe que, na prática, não é bem assim que acontece. A rigidez científica só é invocada quando ela dá suporte aos interesses de quem invoca; quando não, é descartada.”

“Veja o caso da cloroquina: em nome da Ciência, os “experts” estão relutantes quanto ao seu uso. Dizem que não há estudos que comprovem sua eficácia. Dizem, ainda, que não se sabe bem sobre seus efeitos colaterais, apesar de o remédio ser administrado, sem grandes complicações, há décadas. Mesmo com diversos médicos usando-a com sucesso, não querem liberá-la. Enquanto isso, vidas vão se perdendo.”

“Agora, quanto ao confinamento, não tiveram a mesma rigidez. Invocando a Ciência, os “experts” confinaram o povo. Apesar de haver estudos que discordam desse método, insistem que é assim que tem de ser. Apesar de não haver qualquer prova de sua eficácia, além de indícios fortes de sua ineficácia, impuseram-no sem direito à apelação. Mesmo com os efeitos colaterais certos e, provavelmente, muito piores que a própria enfermidade, não hesitaram em submeter o mundo a ele.”

“Ou seja, para interesses diferentes usam critérios diferentes na invocação da Ciência. Como não querem a cloroquina, são rígidos, dizendo que não há evidências científicas. Por outro lado, como querem o confinamento, são frouxos quanto às evidências, exigindo que todo mundo siga determinações científicas que não possuem nenhuma comprovação de eficácia.”

“Portanto, a questão, na verdade, não é científica coisíssima nenhuma. E quem diz que devemos seguir o que os cientistas estão dizendo não tem nenhuma ideia do que está falando.”

E a desfaçatez não parou por aí. O texto do professor Fabio Blanco foi escrito como um alerta logo no início da crise, em 9 de abril (crise esta não causada pelo vírus, mas por quem está usando a doença para atingir outros fins – como acontece também na Segurança Pública, ou seja, o uso da criminalidade como ferramenta de um projeto de poder. Tema este que deve ser desenvolvido em texto apartado). Pois bem, não completado um mês, dia após dia são mais confirmações de que a “ciência” deles, dos que abusam do poder, pode ser utilizada para tudo, menos para buscar a melhor solução para sociedade. Conferindo alguns dos fatos destes últimos dias são constatadas diversas incoerências:
-– o médico David Uip, considerado pela mídia um dos “maiores especialistas” em doenças infecciosas do Brasil, que era coordenador do Centro de Contingência para o coronavírus do Governo do Estado de São Paulo, “integrante” do time que jogava contra a cloroquina declaradamente, foi flagrado, após contrair o Coronavírus, tratando-se justamente com o medicamento que a “ciência” deles não aprovou.

O Imperial College (grande exemplo do núcleo de “cientistas” que é a base da quarentena forçada pelos governadores) previu 40.000 mortes, na Suécia, até 1º de maio, e 100 mil mortes até junho, se ela não praticasse o lockdown. A Suécia não praticou o lockdown. Até 1º de maio morreram pouco mais de 2 mil pessoas na Suécia. Agora a Organização Mundial de Saúde diz que a Suécia é um exemplo a ser seguido. Desta vez, porém, a “ciência” não é usada pelos governadores para liberar a população.

Enquanto todos estão presos em casa, muitos não podendo ver suas namoradas, famílias, amigos, tudo com base nos “estudos” comandados por um homem chamado Neil Ferguson (foi ele e sua equipe que fizeram os cálculos que determinaram que a única saída para o mundo seria o lockdown), justamente ele (Ferguson) pediu demissão do Imperial College simplesmente porque foi flagrado permitindo que sua amante casada violasse o isolamento social para encontrá-lo. O modelo de prognóstico que está servindo de base para fechar o mundo inteiro, inclusive o Brasil, não é seguido nem por seus “especialistas”.
– Semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, que é provavelmente um dos seres humanos que possuem à disposição a maior rede de informação do planeta, afirmou que está utilizando hidroxicloroquina “preventivamente” contra a covid-19. Porém, boa parte da grande mídia continua insistindo que ela não tem “comprovação cientifica” .

Afinal, que “ciência” é essa?

Além de tudo isso, ainda tem de ser considerado que a “comunidade científica” que hoje decide sobre nossa liberdade, necessariamente precisa desenvolver pesquisas e que todo “estudo” tem um custo elevadíssimo. A maioria dos seres humanos é motivada financeiramente, e é fato que existe uma constante disputa por verbas de pesquisas, e para isso se faz necessário demonstrar que uma pesquisa é mais importante que a outra ou, quem sabe, que uma determinada pesquisa serve melhor aos interesses de quem está patrocinando os estudos. Desta forma, é possível imaginar o descontrole intelectual que isso pode gerar.

A cada dia que passa, a lista de hipocrisias e mentiras só aumenta e provavelmente continuará crescendo. Não é neste texto que serão aprofundadas as motivações para que estas imposições e desvios aconteçam. Certamente transitam em interesses políticos e econômicos e não é o objetivo no momento. O destaque agora são as declarações absolutistas de “fatos científicos” imunes a toda discussão – mesmo que qualquer ciência seja apenas um recorte específico feito sobre perguntas específicas – que são utilizados em discursos autoritários para impor conceitos rigorosos visando interesses escusos. Constantemente repetem que estão utilizando a “ciência”, porém, na realidade, estão recusando a própria ciência, que tem, na sua essência, a “negação de teses”.

Estão impondo uma mordaça e um carimbo de inimigo público àqueles que a questionam em algum momento.
Não se prega o descrédito da “comunidade científica” mas o uso da razão. Prega-se evitar o apego à autoridade da “ciência” tal como hoje está acontecendo é o que se pretende. A Sociedade exige uma ciência que incentive a busca das melhores soluções, sendo na Saúde, na Segurança Pública ou em qualquer outra área do conhecimento, e que seus membros não sejam apenas colecionadores de títulos e diplomas, participando da imposição de regras que deixariam os maiores ditadores da História com inveja.