Opinião Defenda

AUTO-ELOGIO À BEIRA DE UM CAIXÃO E SEU DEFUNTO

(*) Elias Miler da Silva

Na tarde de ontem (19), a população do Estado de São Paulo enterrou o corpo de um de seus heróis, o Cabo PM Marcelo Reinaldo Gardinal. Ele foi assassinado em Dois Córregos, município localizado a pouco mais de 300 quilômetros da Capital, com três tiros de fuzil, um deles na cabeça, durante um cerco a criminosos. O Cb Gardinal deixa esposa e um filho de apenas dois anos. Deixa, também, um exemplo a ser seguido pelos seus pares estampado no diploma de Policial do Mês conquistado em 2015.
Em longa e abominável “Nota à Imprensa”, a Secretaria da Segurança Pública comunica que “a Polícia Militar lamenta o falecimento do Cabo (sic) PM Marcelo Reinaldo Gardinal durante uma perseguição a dois criminosos no município de Dois Córregos”. Isto foi tudo o que o governo mostrou que tinha a dizer sobre a morte do PM, e ainda mostrou errado. O Cb PM Gardinal não “faleceu”; ele foi assassinado! Quem “lamenta”, na Nota, é a Polícia Militar e a Associação DEFENDA PM, não o governo. Na verdade, a Polícia Militar chora a perda de um de seus heróis; o governo faz propaganda.
Lamentável, para dizer pouco, é o que a Secretaria da Segurança Pública teve a capacidade de escrever em seguida, deixando no ar a insinuação de que o culpado pela morte é… o morto! Prossegue a Nota: “Na ocasião, apesar de a equipe estar equipada com uma arma longa (Taurus CT.30), o policial foi atingido”. Aqui termina o assunto do assassinato do PM. Os cinco parágrafos seguintes foram escritos para exaltar as “realizações” do governo Dória na Segurança Pública, que “investe continuamente no aprimoramento do trabalho policial por meio da aquisição de novos armamentos, viaturas e tecnologia, além da ampliação do efetivo”.
De duas, uma: ou o governador João Dória vive em outro Estado ou seus assessores desconhecem o que o governo “não fez” até agora. O armamento a que se refere a nota são as espingardas calibre 12 ou os fuzis .762 e .556 autorizados pelo governador para uso no patrulhamento? Se a Nota se refere a isso, lamentamos informar que nada foi adquirido nesses quase dois meses de governo; trata-se de material de estoque da PM. Ou as “realizações” são a ampliação do número de BAEPs, como diz a Nota? Neste caso, informamos aos assessores do governador João Dória que nem um tijolo sequer foi assentado para construir um BAEP. Novas viaturas, ampliação do efetivo… Onde isso?
De verdadeiro, na Nota, além do falecimento do Cb Gardinal, só a informação de que as Polícias Militar e Civil realizam (sic) grandes operações que resultaram (sic) na prisão de mais de 4.600 criminosos e na apreensão de mais de 11 toneladas de drogas em todo o Estado. O resto é pura propaganda de mau gosto, desrespeitosa, insensível.
Seria muito bom ver o governador vir a público para dizer por que não foi ao enterro do Herói PM, realizado ontem sob um silêncio honroso de seus pares. Ou para justificar-se por não decretar luto oficial no Estado, por mais esse assassinato. Ou para dizer quais medidas seu governo já implementou para socorrer as famílias de policiais militares que morrem ou tombam incapacitados para o resto da vida. Por fim, seria interessante ver o governador encarar o filho, de apenas 2 anos, do Cb Gardinal e informá-lo de que governo do Estado não vai assumir sua educação, suprir suas necessidades básicas, sua proteção, sua alimentação… apesar do fato de ele ser órfão de um homem que foi assassinado por defender a Sociedade da qual o governador faz parte.
O governador João Dória, convenhamos, já deu várias provas de que tudo não passa de peça de marketing pessoal. Aos seus assessores, um conselho: há maneiras mais honestas de ganhar a vida.

(*) É Coronel da Reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo e Presidente da DEFENDA PM – Associação dos Oficiais Militares do Estado de São Paulo em Defesa da Polícia Militar.

 

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